quarta-feira, agosto 08, 2012

Católicos e Política: porquê votar

O tema é inesgotável e creio já o ter referido aqui algumas vezes. Não tenho outra ambição política, aliás, do que esta: contribuir para uma presença assim em Portugal. Vindo este post agora à baila porque uma amiga minha acaba de me enviar a tradução que lhe tinha pedido deste juízo da comunidade mexicana de Comunhão e Libertação publicado a propósito das eleições que tiveram lugar naquele país este mês de Julho. "Reza" assim:


PORQUÊ VOTAR? É O MOMENTO DA PESSOA

Em Julho o México será chamado a eleger o Presidente e o Parlamento.

«Não existe a possibilidade de construir sobre o amanhã. Só existe a possibilidade de construir sobre o desejo presente…» Luigi Giussani

Dentro de poucos dias, terão lugar as eleições federais no nosso país. Os candidatos à Presidência da República, os Senadores e os Deputados serão eleitos através de um processo democrático em que o povo do México decidirá a quem dar o seu voto.

É o momento da pessoa, a possibilidade de manifestar com clareza quem somos e o que desejamos. Na sua carta sobre as próximas eleições, os Bispos mexicanos convidam-nos «a participar pessoalmente na vida pública» e a não nos subtrairmos ao empenho que implica o «multifacetado e diversificado agir no campo económico, social, legislativo, administrativo e cultural, destinado a promover o bem comum de forma orgânica e institucional».

É uma provocação oportuna porque para a maioria das pessoas prevalecem o desencorajamento e a desconfiança nas propostas dos partidos políticos. De onde vem esta negligência? A nossa consistência de seres humanos depende do poder que está em causa? Nenhum de nós deseja ser manipulado ou submetido a um mecanismo central que pretende determinar todos os aspectos e as expressões da vida dos homens. Qual é, então, a alternativa? Quais são as raízes da nossa dignidade?

Cristo revelou-nos que o valor infinito de cada homem encontra o seu fundamento na nossa relação directa com o Mistério, com Deus. Por isso, nada, nem um poder político, nem o poder de um grupo social ou da família nos determina. Somos livres e, como tal, somos responsáveis pela nossa vida e pela vida da sociedade.

O Papa Bento XVI recordou-no-lo recentemente na sua homilia em Silao, «A história de Israel narra também grandes proezas e batalhas, mas quando se trata da sua vida mais autêntica, do seu destino mais decisivo, isto é, da salvação, mais do que em suas próprias forças, Israel depõe a sua esperança em Deus, que pode criar um coração novo, sensível e submisso. Hoje, isto pode recordar a cada um de nós e aos nossos povos que, quando se trata da vida pessoal e comunitária na sua dimensão mais profunda, não bastam as estratégias humanas para nos salvar».

O coração do homem é o selo irredutível de que é feito o homem e, por isso, nenhum poder conseguirá eliminar definitivamente o nosso desejo de infinito.  Os novos movimentos juvenis, como o "#Yosoy132" são testemunhos disso mesmo, ainda que na sua generalidade.

Um coração puro é um “eu” desperto, o único sujeito capaz de enfrentar de forma criativa até a circunstância das eleições. Cada pessoa deve responder: entre todas as propostas políticas que são apresentadas, qual leva em consideração este “eu”, este desejo que cada pessoa tem de alcançar o transcendental, a realização plena? Qual delas coloca no centro do seu conteúdo e da sua acção a pessoa e não a sua ideologia? Qual delas, pelo contrário, em vez de cortar a consciência, procura que esta se escancare e favorece as condições para que cada pessoa seja protagonista da própria história?

Isto exigirá um trabalho intenso de reflexão e verificação, que vá para além da superficialidade da propaganda mediática, do isolamento e da indiferença em que podemos cair, dando por adquirido que já tudo estará decidido a favor de um candidato. É preciso ter presente que a iniciativa das pessoas e das realidades sociais que daí decorrem - famílias, empresas, obras educativas - não se limita à circunstância das eleições mas abraça toda a vida quotidiana: a nossa família, o nosso trabalho, os negócios, a cultura. Somos nós os construtores desta sociedade através do nosso empenhamento quotidiano.

Sem isto, falar de mudança seria apenas mais uma ilusão.

O voto só faz sentido como parte deste empenhamento maior. Por isso, é preciso votar, porque o nosso país se constrói no presente.

Este é o momento da pessoa!

Sem comentários: