terça-feira, abril 12, 2005

Celebridades e VIP's (um artigo de Pedro Afonso)

Os VIP's Light

Podemos considerar um VIP (very important person) aquele que se eleva acima da medida humana comum pelas suas qualidades e características. Estas pessoas acabam por ser dignas de admiração e são elevadas à condição de heróis, tal como acontecia na Grécia antiga. Todas as culturas tiveram os seus heróis e, as suas façanhas simbolizam passagens da vida terrena, quer sejam vividas por todos ou apenas por alguns indivíduos.
Estamos habituados a associar ao estatuto de VIP, pessoas que se distinguem no campo das artes, desporto, política, cultura, medicina, etc. Embora os critérios para aquisição desta distinção sejam subjectivos, há pelo menos dois aspectos fundamentais: o seu carácter excepcional e invulgar e o seu esforço e trabalho.
Curiosamente, assistimos à criação (invenção) de um novo tipo "de pessoa muito importante": o VIP Light. Estes VIP's ligeiros, superficiais, suaves, descafeinados e com poucas calorias estão a invadir diariamente as nossas televisões, jornais e revistas. Na maioria dos casos não se lhe conhece obra, para além de terem surgido nalgum programa de televisão tipo reality show. A sua ascensão é meteórica e adquirem rapidamente - sem se saber muito bem porquê - o estrelato.
Este fenómeno dá-nos a ilusão que não já não é preciso ser herói, basta ter um pouco de sorte e aparecer num local que promova a sua imagem. Os antigos VIP's que simbolizavam algo de inatingível, e que ficavam a meio caminho entre os homens e os deuses, estão fora de moda! Ou seja, qualquer um de nós mesmo que não tenha feito nada de extraordinário pode ser um VIP; o acesso foi democratizado! De uma forma muito fácil o personagem fabrica-se através da comunicação social.
Estes "heróis de plástico" reflectem a criação de uma pseudocultura, acompanhada com interesse, por exemplo, por algumas revistas (daquelas que têm pouco texto para não cansar a cabeça!). As suas vidas, mesmo por vezes violando alguns princípios de dignidade humana, tornam-se públicas. Seguem-se os vários episódios da sua existência: viagens, festas, dramas sentimentais, intrigas, escândalos, etc. Lamentavelmente, é isto que vende numa sociedade cada vez mais materialista, consumista e vazia do ponto de vista moral.
No fundo, estes VIP's Light são como os Kleenex: usam-se e deitam-se fora. Quando o publico se cansa de uns, logo se arranja outros para os substituírem e o espectáculo continua!
Esta ideia colectiva obsessiva de acompanhar com superficialidade a vida dos VIP's Light não é edificante. Este hábito perturbador (quase voyeurista) que se tem enraizado na nossa sociedade, não nos leva a lado nenhum. Em lugar de nos centramos mais na nossa vida interna e privada, perdemo-nos nesta viagem estéril que serve apenas para passar o tempo.
Torna-se importante reencontrar-mos os nossos verdadeiros heróis, que sirvam de modelos de referência e que mereçam de facto ser perpetuados na nossa memória. Na verdade, muitos deles vivem vidas simples (mas nobres) e nunca irão aparecer nos programas de televisão, nem nas revistas ou jornais. Se calhar, nós até conhecemos pessoalmente alguns.
Pedro Afonso

2 comentários:

Anónimo disse...

Veja-se o caso do pobre Zé Maria. Alto subiu e alta foi a queda. Foi um exemplo triste de um Vip Light!

Anónimo disse...

É preciso centrarmo-nos naquilo que é realmente importante. Lamentavelmente a imprensa só dá destaque a este tipo de gente. Eles próprios acabam por ser manipulados pela sociedade de consumo em que vivemos. São uns palhaços modernos!