sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ainda este escândalo das escutas

Continuo a achar que o mais importante que se está a passar na divulgação das escutas, não é o que elas revelam de combinações, mas o próprio facto das escutas saltarem para os jornais, o que mostra um estado incapaz de garantir a segurança e intimidade das conversações, de fazer respeitar isso pelos seus serviços e de punir todos os que violam o segredo de justiça (em sentido amplo e não apenas formal)...
Este artigo do João César das Neves parece-me corroborar esta minha opinião e merece ser lido (retirei-o do Blog Povo):

DESTAK |18 | 02 | 2010 08.42H

João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Assistimos a um grande embate entre Governo e imprensa, onde os políticos estão a perder em toda a linha. Mas se as irregularidades governamentais são muito graves, é bom não perder de vista também as culpas do outro lado. Os políticos corromperam os valores, mas é verdade que as escutas e o jornalismo de buraco de fechadura são péssimos. Os jornais apresentam-se como juízes nacionais e garantes da moral pública, mas acabam envolvidos na sujidade que dizem limpar. Um caricato exemplo recente, alheio à controvérsia, mostra-o bem.

O Papa vem a Portugal em Maio. Essa visita levanta muitas questões, algumas polémicas, várias dificuldades. Há muito a dizer sobre ela. O Expresso, uma das principais publicações nacionais, decidiu fazer uma reportagem sobre o tema. Mandou uma repórter às lojinhas do santuário e fez uma notícia de página inteira com chamada à capa: «Bento XVI é um fracasso de vendas em Fátima» (13/Fev.).

O assunto é menor, mas revelador. Há muitas opiniões sobre a personalidade do Papa e o seu significado. Mas será que ninguém nesse grande semanário tem influência para dizer que isto é muito estúpido? Será tal especulação tonta digna de primeira página? Porque entrou o periódico em boçalidade tão infantil, jornalismo de cordel que confirma o pior que dizem?

O principal mal dos escândalos nacionais é que desmoralizam o País. Quando os líderes são arrastados na lama os cidadãos sentem-se mergulhados em maldade. O exemplo público da corrupção propaga a mediocridade em todas as actividades. Até naquela que o denuncia.

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