segunda-feira, junho 11, 2007

Aborto: em torno da objecção de consciência

As noticias dos últimos dias sobre objecção de consciência dos médicos, na prática do aborto livre, são, como disse o anterior Bispo de Setúbal, "maravilhosas"!
Sobre o assunto algumas observações:
1. É completamente "torpe" a insinuação de que haverá médicos objectores no público, que não o serão no privado (veja-se a este propósito o editorial do Público de hoje da autoria de Amilcar Correia). O contrário sim é que é verdadeiro: provavelmente quem não tem objecções no público, também nas as terá no privado!
2. É preciso mesmo não perceber que ninguém como os médicos conhece a selvajaria que é desfazer um bébé de 10 semanas...e essa é a razão da objecção. Que não desaparece se mudadas as circunstâncias!
3. Além disso recorde-se que, salvo no modo de produção industrial de abortos, das clinicas espanholas, o restante sector privado, há muito deixou claro que não haverá abortos nas suas instalações.
4. Se o ex. Bispo de Setúbal tem razão, também se pode fazer o raciocinio inverso: que impressão me faz que, conforme os locais, haja 20 ou 40% de médicos ginecologistas e obstetras, dispostos a fazer abortos até às 10 semanas! Isso sim, é muito preocupante.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro APT,

Os seus últimos posts merecem o meu comentário por, mais uma vez, discordar da sua forma e conteúdo.

Primeiro a petição para evitar que o regicida Aquilino Ribeiro vá "dar com os ossos" no panteão nacional. Na sua perspectiva Aquilino Ribeiro é um terrorista, um criminoso, etc. Pobre Aquilino. O que dizer das Cruzadas, da Inquisição ou das famosas parcerias entre a Igreja Católica e diversos tiranos da nossa História.

Saberá muito melhor do que eu que o Estado Novo (esse arauto dos direitos humanos) também nutria por ele a admiração que agora move os "petidores" anti-Aquilino.

O que eu acho piada nestas coisas é a dualidade de critérios, quem é tão intransigente com um único indivíduo não pode, ao mesmo tempo, ser tão condescendente com um conjunto tão vasto de pessoas que ao longo da história tem contribuído e pactuado com tantas mortes injustas e inadmissíveis. Ou não lhe parece?

Agora é a cruzada anti-abortistas. Mas será que ainda não perceberam o que se passou? Perderam. Acontece.

O exemplo da rapariga que queria interromper a gravidez porque "ia casar, estava a engordar e temia não caber no vestido" é, obviamente, revoltante. Mas os casos opostos não o serão também?

As mulheres que engravidam porque o casamento está em risco, ou as que depois do nascimento deitam os bébés para um caixote do lixo servirão de propaganda "abortista"?

Esta visão de que o que é preciso agora que perderam o referendo é impedir os médicos de fazer abortos é, em si própria, um aborto.

Quem acha que só "uns facínoras profissionais ou uns ceguinhos da ideologia" é que vão fazer abortos, acha muito mal e demonstra uma tacanhez de espiríto confrangedora.

Este não é um assunto fácil (como já concordou em posts anteriores) logo não serão apenas "serial killers" os "abortistas" de serviço. Essas generalizações são muito fáceis e demgógicas, é o mesmo que dizer que para se ser padre tem que se ser pedófilo ou que para se ser de Direita tem que se ser fascista. Acho que esse tempo já passou (ou deveria ter passado).

Cumprimentos,

Carlos

Antonio Pinheiro Torres disse...

pCaro Carlos: obrigado pela atenção com que vai seguindo este blog.
É verdade que na história da Igreja católica já houve (e há se calhar) muita canalhice, maldade e injustiças. Eu próprio não me recomendo como exemplo...tudo isso faz parte da história humana, tal como a maldade do Aquilino (que agora, como dizia o meu avô Almaida Braga, "já sabe que afinal Deus existe" :-).
A minha "pega" com o Aquilino tem só esta razão: querem pô-lo no Panteão, apontá-lo como exemplo. E eu não acho que o exemplo dele se recomende.
Ainda uma nota sobre a maldade da Igreja: há e houve-a aos pontapés. Mas ao ao lado de tanta bondade, amor, caridade, riqueza cultural, beleza, conforto e consolo, que, francamente, não me parece que todo o mal por junto de que tenhamos sido autores chegue a ser uma nódoa minima no bem que somos...mas enfim, se calhar isto é uma pretensão injustificada aos seus olhos...?
Quanto ao aborto, é verdade que perdemos, mas:
a) nem por isso temos menos razão (desfazer um bébé de 10 semanas nunca é boa ideia)
b) histórias revoltantes como a da noiva que queria abortar são muitas. Como abortar nunca resolve o problema de ninguém e ainda por isso dá conbertura a casos como estes, há que infatigavelmente tentar que o aborto legal (e o outro também) sejam sempre muito dificeis de praticar.
c) às mulheres que deitam os bébés para o caixote de lixo existe sempre a possibilidade de tentar evitá-lo e talvez salvar alguns deles (por isso assistimos e bem ao renascer das "rodas"). Os que são abortados com a colaboração do estado é que não tem hipóteses nenhumas...
d) claro que visto caso a caso, consciência a consciência, história pessoal a história pessoal, sentimento a sentimento, as classificações genéricas são sempre redutoras, quando não agressivas e insultuosas. Nesse ponto tem razão. Certamente você não se reconhece em nenhuma delas e é justo que assim seja. Mas o acto objectivo, o facto do aborto, permanece aquilo que é: um assassinato a frio de um ser humano com 10 semanas, ou se quiser, e citando Lidia Jorge,de uma coisa humana com 10 semanas.
Um abraço com amizade do
António Pinheiro Torres