quarta-feira, janeiro 28, 2009

Obama, Estados Unidos e cristianismo

Seria tão bom que Obama só significasse o que Maria da Glória Garcia refere neste artigo que foi publicado na Ecclesia...! Infelizmente temos o "dark side" de Obama que Miguel Alvim caracteriza num artigo hoje saído no Infovitae e que também vou publicar aqui no Blog...

Barack Obama

Emblemática, a tomada de posse de Barack Obama como 44º Presidente dos Estados Unidos da América merece inúmeras reflexões, sob vários ângulos, multidisciplinares, de substância, de forma...
Nesta, procurarei destacar duas ideias: o juramento solene sobre a Bíblia e a referência inicial do 1º discurso de Barack Obama à humildade.

Reflectindo sobre a primeira ideia, começo por evidenciar a presença, na ceri-mónia de tomada de posse do poder executivo nos Estados Unidos da América, com toda a sua irradiante carga simbólica, de um poder distinto daquele poder estadual. Falo do poder dos que têm fé e acreditam em Deus e O exigem como testemunha primeira dos seus actos, simultaneamente, o poder dos que têm fé e acreditam que um juramento sobre a Bíblia significa total fidelidade às tarefas reconhecidas por lei a quem as jura cumprir.

O capital de confiança, pacificadora e unificadora, que decorre da presença de Deus e do seu poder neste momento fulcral para a história do povo norte-americano – e, porque não dizê-lo, para a história dos povos que estão a iniciar o percurso do século XXI – virá a ser acentuado ao longo do discurso, na escolha da «esperança e não do medo», na escolha da «unidade de objectivo e não o conflito e a discórdia», lembrando palavras das Escrituras e reafirmando «a promessa de Deus de que todos somos iguais, todos somos livres, e todos merecemos uma oportunidade de tentar atingir a felicidade completa», o que, por outras palavras, significa recuperar e enfatizar a memória fundadora dos valores culturais que moldam e sustentam o Estado de Direito. E Barack Obama vai mais longe, apelando ao espírito ecuménico que une cristãos e muçulmanos, judeus, hindus e não crentes, desde logo os presentes na imensa multidão de crianças, homens, mulheres à sua frente, e vê na diversidade a força, acrescentando: «a fonte da nossa confiança reside em saber que Deus nos chama para moldar um destino incerto». Nessa linha termina, implicando todos na mudança – ninguém fica de fora desta ingente tarefa –, «com os olhos fixos no horizonte e a graça de Deus entre nós», e solicitando a «bênção de Deus» para esta tarefa e para o povo a quem, em primeira linha, se dirige.

A segunda ideia que registo é a acentuação da humildade. Falo da humildade com que Barack Obama se apresenta perante quem lhe conferiu o poder de Presidente e o tornou, por isso mesmo, diferente dos demais cidadãos americanos.

Longe do esperado triunfalismo de quem foi eleito e reafirma as promessas anunciadas antes das eleições; quebrando com a tradicional euforia de quem sente o privilégio de chegar a um lugar cimeiro, impensável há poucos anos; rompendo com a normal pose vencedora e diferen-ciadora, compreensível em situações como esta, Barack Obama junta à palavra «humildade» um discurso que lhe dá conteúdo, de incitamento à tarefa da reconstrução da confiança na comunidade, em liberdade, colocando-se como seu artífice, em paridade com os outros cidadãos. E, de forma clara, afirma: «o poder só por si não nos protege nem confere qualquer título para fazer o que quisermos». «O nosso poder cresce com o seu uso prudente; a nossa segurança emana da justeza da nossa causa, da força do nosso exemplo, das qualidades temperadas de humildade e contenção».

Em conclusão, de conteúdo inspirador e palavra mobilizadora, esta tomada de posse ficará, decerto, na história como um fruto maduro do poder de acreditar e um exemplo para quem pretenda exercer esse poder.

Internacional | Maria da Glória Garcia| 27/01/2009 | 09:23 | 3498 Caracteres | 264 | América

Sem comentários: