Provavelmente tenho uma hipersensibilidade às violações da privacidade e ao respeito pela intimidade das comunicações, mas espanta-me que no caso em referência ainda não tenha lido uma linha a denunciar a incrível divulgação das comunicações pessoais, vida profissional e política, dos visados neste caso das secretas, assunto que ontem com muita coragem foi proposto pelo primeiro-ministro que fosse o tema da sua ida quinzenal ao parlamento.
Porque há que distinguir: uma coisa é a investigação (que deve ser exaustiva, conduzida pelas autoridades competentes) do comportamento de Silva Carvalho e do seu grupo de amigos nas vertentes das suas responsabilidades nas secretas e do uso inacreditável que poderá ter uma empresa privada feito dos serviços de informações (creio mesmo que em se confirmando se trata de crime) e outra é andar-se a investigar e divulgar publicamente as relações sociais, profissionais e políticas de quem aparece neste caso, lançando um manto de suspeitas sobre factos que não importam senão a quem os pratica (se houve reuniões profissionais, se houve sugestões políticas, que encontros tiveram, etc.). Estou sinceramente farto de que "X foi tomar café com Y e tem uma actividade comercial conjunta no país Z" pareça de repente o mais condenável dos actos, só porque X ou Y são pessoas públicas.
Que a investigação policial se dedique a espiolhar os pertences tecnológicoa de Silva Carvalho e outros implicados no caso Ongoing, percebo. Faça-o até para proteger os serviços de forma reservada e com todas as cautelas acrescidas que a segurança nacional exige. Mas que esse mesmo material apareça todos os dias na comunicação social, parece-me ser doentio, e nestas coisas não se pode brincar. Como dizia Brecht (e resumindo) "quando foram buscar os outros, não me incomodei. Hoje vieram buscar-me a mim e não me resta ninguém para me defender..." Isto é, pode ser que haja quem (por interesses políticos e/ou comerciais) esteja alegre com a queda dos seus adversários, mas vencer assim gera mais perigo do que frutos.
Duas notas: estou completamente livre em relação a isto (veja-se o que sobre maçonaria sempre fui escrevendo neste blog) e aos protagonistas destes casos, o que mais à vontade me põe para escrever o dito acima. Que cada um dê uma olhadela na sua caixa de sms's e procure lê-los como um estranho aos assuntos pessoais respectivos (isto é como podem ser entendidos por um terceiro) e pense também como se sentiria com esses mesmos publicados nas primeiras páginas dos jornais...
Foi o diário da acção política de um deputado do PSD, eleito por Braga, e agora é-o de um cidadão que desejando contribuir activamente para a organização do bem comum, procura invadir esse âmbito (da política) com aquele gosto de vida nova que caracteriza a experiência cristã. O título "POR CAUSA DELE" faz referência ao manifesto com o mesmo título, de Comunhão e Libertação, publicado em Janeiro de 2003 (e incluído no Blog).
quinta-feira, maio 31, 2012
Relvas e Silva Carvalho: ninguém está incomodado?
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