Foi o diário da acção política de um deputado do PSD, eleito por Braga, e agora é-o de um cidadão que desejando contribuir activamente para a organização do bem comum, procura invadir esse âmbito (da política) com aquele gosto de vida nova que caracteriza a experiência cristã. O título "POR CAUSA DELE" faz referência ao manifesto com o mesmo título, de Comunhão e Libertação, publicado em Janeiro de 2003 (e incluído no Blog).
sexta-feira, novembro 09, 2012
Isabel Jonet tem razão!
As declarações de Isabel Jonet (que se encontram na íntegra aqui no site do Blog Povo) na SIC a 6 de Novembro suscitaram um coro de indignações completamente disparatadas, injustas e intolerantes.
Disparatadas porque nem o Banco Alimentar é uma instituição pública em que qualquer um possa intervir (é uma instituição particular, governada pelos seus sócios que escolhem os seus dirigentes) nem as afirmações da respectiva presidente (o núcleo fundamental, que despertou o protesto, sendo, como as reproduz o Público: "“os portugueses vivem muito acima das possibilidades” e que, por isso, vão ter que “aprender a viver com menos”. “Vamos ter que empobrecer muito, vamos ter que viver mais pobres”, ") o justificam: são verdadeiras, razoáveis e adequadas a todos as ouvirmos!
Injustas porque olhando para a obra do Banco Alimentar e da sua presidente é dificil encontrar mácula que se lhe possa apontar e é o cúmulo do desplante insinuar que da parte dela possa exisitir qualquer indiferença aos pobres. A sua obra neste ponto fala por ela e pelos que trabalham com ela (e a quem aproveito para manifestar a minha solidariedade!).
Intolerantes "cela va de soi". A ditadura do politicamente correcto é implacável mas não se pode deixar de combatê-la com firmeza, afirmando a liberdade de cada um pensar e dizer o que bem entender. Neste ponto é brilhante o artigo de Henrique Monteiro que encontrei agora no site do Expresso online. Subscrevo linha a linha.
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1 comentário:
Não, Isabel Jonet não tem razão. E não a tem há muito tempo. E nem é tanto pelo conjunto de lugares comuns, ufano do senso prático da mesquinhez burguesa, que decorre das declarações que displicente e paternalistamente proferiu, do alto da sua condição bem acomodada, de rabo bem assente em coxim escarlate. São declarações que, aliás, encaixariam bem numa ensaboadela, em privado, aos seus filhinhos-família. Mas nem todos os portugueses são seus filhos, nem todos partilham do seu abusado estadão de privilegiada, nem todos enfermam dessa estupidez beata que identifica pobreza com a condição diminuída própria dessa categoria de parasitas que depende da sua esmola condoída. É, sobretudo, pelo que, vergonhosamente, silencia. É que a pobreza e a injustiça não se reduzem, cinicamente, a uma questão de esmola, mesmo que mega esmola. Mas as declarações de Isabel Jonet são falsas, logo, na atoarda desapiedada de que não há fome em Portugal. Se não há, qual a utilidade, a razão de ser de uma instituição auto-designada “Banco Alimentar Contra a Fome” (até no nome se percebe o afã de associação aos poderes do dinheiro)? A de dar emprego e prestígio à dra. Jonet, de tão boazinha que ela é? O que de meritório pudesse ter a actividade de tal “banco”, e tem certamente, como tem qualquer filantropia, mesmo que proveniente de magnatas traficantes, desfaz-se em pornografia perante as arrotadas presunções Jonetianas. Uma tal instituição só tem razão de ser, e daí a simpatia que tem merecido, porque, infelizmente, a instituição pública com poderes e competências (delegadas por uma comunidade com sentido da decência) para acorrer a toda a sociedade, ou seja, o Estado, apresenta falhas na promoção da justiça e, particularmente, falhas na sua função redistributiva da riqueza. Um tal banco só existe, portanto, pela urgência em acudir a situações de fome que de outro modo não seria justamente aplacada. Trata-se, portanto, de um imperativo de humanidade. Mas o mesmo imperativo de humanidade e justiça, tão cruciais para um cristão, deve levar à compreensão da necessidade de criação das condições materiais estruturais da justiça. Ora, este passo só é possível e viável com o concurso de uma instituição que represente o conjunto da comunidade, que possa agir em seu nome e que a possa alcançar no seu todo. Essa instituição, por enquanto, já que não se conhece outra, é o Estado. A dra. Jonet, todavia, sermoneia-nos com a indispensabilidade de que o Estado se afaste. Só isto deveria servir para os cristãos perceberem a obscenidade do seu conceito de cuidado com o próximo. Que os cristãos, tão zelosos com miudezas sexuais, não só suportem os pontos de vista da senhora Jonet como até os promovam, ilustra quão longe foi a decadência da Igreja e quanto se afastou do ideal evangélico de sede e fome de Justiça, de exaltação da honra e dignidade da pobreza.
Esta crónica e este textinho certeiro, para que remeto nestes links http://arrastao.org/2682493.html ; http://arrastao.org/2682675.html , vêm, de facto, mesmo a calhar.
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