sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Baltazar Garzón e os riscos do moralismo individual e histórico

Hoje no Público Francisco Teixeira da Mota publicou um excelente artigo intitulado "Mesmo os melhores fins não justificam todos os meios" sobre o caso do juiz espanhol Baltazar Garzón.



Confesso que sempre me irritou a cruzada moralista a que se entregam tantas magistraturas judiciais por esse mundo fora, sobretudo na Europa. Em Itália a coisa foi ao ponto de terem conseguido (com uma grande ajuda da vitima é verdade...) derrubar um governo legitimamente eleito e em Espanha foi um festival de revisionismo histórico embora muito orientado só para um dos lados (no caso, o lado republicano da guerra civil de Espanha ou a ditadura de Pinochet).

Depois embora admire a virtude, acho que esta é por definição humilde. Ora, a aura impoluta de que se arvoram e em que são arvorados alguns dos personagens idolatrados pelos media tem sempre este risco: no fim, no fundo, trata-se apenas de humanidades tão frágeis como as nossas, mas quando caem o estrondo é despropocionado à falta cometida, em consequência do moralismo protagonizado...nada como aquela consciência católica que levou um Padre meu amigo a observar perante o escândalo de alguns que "não há pecado nenhum, nenhuma barbaridade, que não esteja na potencialidade da minha humanidade. Se aconteceu com um ser humano, podia ter acontecido comigo. A Graça é o que precisamos e do que vivemos para que isso não nos aconteça"...

No caso concreto de Baltazar Garzón ter ido buscar um ancião, ditador de facto mas único na história do século XX que saiu pelo próprio pé, depois de submeter a sua ditadura a referendo da população, ou andar a querer julgar a história (como no caso da guerra civil de Espanha), sempre me pareceram coisas sem razão nem fundamento. E que agora acabam tristemente...

Dito isto reconheço (pensando nas ditaduras militares sul-americanas dos anos 70) que se fosse pai de uma rapariga de, digamos 16 ou 17 anos, presa e torturada por activismo político (ou até no limite por insurreição), tivesse ela sobrevivido ou não a esses mau-tratos, provavelmente (por falta da santidade que já vi e li de tantas e tantas vitimas de violências parecidas ou equivalentes) não descansaria enquanto, pelo menos, os autores dessas barbaridades fossem julgados e condenados, pouco me importando se já tinham ou não passado 40 anos sobre os factos, se já se tinham arrependido (no que não acreditaria) ou não fazia mais sentido por prescrição ou outra razão qualquer, julgá-los...mas reconheço também o que me moveria nesse caso: vingança. O que não é o mesmo que justiça...

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