quarta-feira, março 16, 2005

Quanto ganhei como deputado e os salários dos políticos

Num Post editado no meu Blog no parlamento intitulado “Contrato com os Portugueses assinado hoje por Pedro Santana Lopes” apareceu-me de repente este comentário (assinado por Gajo e com o endereço http://gaseaovento.blogs.sapo.pt/ ): “Gostaste da surpresa??? O dinheiro que ganhaste às custas do Povo português hás-de gastá-lo em pomada pas micoses.” (sic.).

Da minha parte a resposta foi (sobre a parte do dinheiro): “Sobre o dinheiro que ganhei à custa do povo (de si, de mim próprio, pois também pago impostos, de todos os nossos compatriotas) gostava que me dissesse quanto imagina tenha sido? E também: se o carro em que andava era meu, ou do Estado, quem me pagava o telemóvel, etc. Tenho muita curiosidade em que me responda a essas perguntas e todo o gosto em falar sobre o "balurdio" que ganham os deputados "que andam lá a encher-se"...é um debate que sempre desejei e estava a ver que nunca mais ninguém me chamava malandro, para eu poder falar sobre isso! :-)”.

Chegou-me agora a resposta, assim: “Quanto ao dinheiro que ganhou é, certamente, mais do que os (quase) 350 euros do salário mínimo nacional. É, também, mais do que aufere o comum mortal que entre a trabalhar em alguns sectores da Função Pública . Sabe, concerteza, o que é o índice 100. Quanto ao carro e ao telemóvel, sejamos razoáveis, era o que faltava! Já agora, gostava também de saber qual foi o sentido do seu voto na questão do aumento do ordenado dos deputados durante a última legislatura.”

“Migro” então a discussão para aqui e respondo como se segue:

É verdade que o meu salário bruto era de 10 vezes o salário mínimo nacional ao qual se juntavam as ajudas de custo para ir ao círculo eleitoral em valores que não chegavam sequer para pagar as portagens do meu carro (eu sei...um monovolume...peço desculpa mas tenho quatro filhos e dois sobrinhos a viver comigo e juro que não consigo encafuá-los mais as malas em menos do que este e no fiat punto da minha mulher) e muito menos para pagar o hotel e as refeições!
Além disso o carro é meu e o telemóvel também. Ou seja ganhava menos do que um vendedor das sociedades em que trabalhei durante 16 anos e para quem seria impensável ir vender, suportando os custos da deslocação ou levando carro próprio ou levando-o sem que a firma pagasse a gasolina e as portagens...

Também já não menciono o facto de quer na indústria, quer na advocacia (que depois pratiquei) sempre tive secretária (desde que comecei a desempenhar funções de direcção ou gerência) e que no parlamento havia uma secretária para cada 6 ou 8 deputados...

Ora, isto não pode continuar assim! Porque ou não se desempenham cabalmente as funções de deputado (estando os dias inteiros no parlamento ou ao serviço deste)(embora se possa pensar em que a par de deputados “dedicados”, existam deputados “só representantes”) ou então acumula-se com outras actividades. Mas não desfazendo em quem o faz assim, fica muito dificil servir o povo que nos elegeu!

O que eu proponho: que cada deputado, ministro, etc., ganhe o mesmo que ganhava cá fora (talvez matizado, tipo média de tantos anos, enfim...). Porque assim, não dá...:-)

Nota final: a discussão que menciona (na IXª legislatura) não existiu...para grande pena minha em que (se tanto me concedesse o meu grupo parlamentar, o que também não é certo...) teria tomado a posição acima.

Ah, é verdade!

Não conheço exactamente as normas da reforma dos deputados, mas se não me engano é 12 anos e só desde que se chega à idade da reforma...não é nada disso que dizem cá fora (como também é falso que a CP nos ofereça os bilhetes, etc.). Mas sabe porque foi criado esse privilégio? Por causa da hipocrisia e da demagogia dos políticos e dos eleitores, que se recusam a olhar para a realidade de frente e assim dão lugar a estas “esquisitices”...
Existe também um subsídio de reintegração na vida civil de um salário por cada seis meses que se passou na Assembleia (no meu caso e devido ao PR, cinco, vírgula tal). Outra “esquisitice” criada para tentar "enganar" os políticos e o povo (mas por culpa da cegueira de ambos a esta questão dos ordenados). Sim, vou pedir o mesmo, de consciência tranquilíssima. :-) Em média equivale a terem-me pago (durante estes três anos), não 3500 Euros por mês, mas sim, 3900 Euros.
Faço aqui uma ressalva: este subsídio de reintegração na vida civil não me parece tenha paralelo em outras profissões (daí a minha estranheza quando soube dele). No entanto para alguns de nós, a entrada no parlamento (e estar lá a tempo inteiro) implicou abdicar do emprego ou profissão anteriores. Assim é justo que alguém que para servir o bem de todos, abdicou de um bem próprio, lhe sejam facultados os meios, no fim dessa missão, para poder encontrar novo trabalho (podendo-se aqui objectar que é para isso que existe o subsídio de desemprego e esse podendo durar mais que, por exemplo, o meu, tem a "justiça" de terminar quando a pessoa volta a trabalhar...? é uma coisa a pensar).
Estou aberto a continuar a discussão.

10 comentários:

Anónimo disse...

É sempre bom saber que está aberto a continuar a discussão. Portanto, ganhou em média 3.900 euros por mês, mais do que dez vezes o salário mínimo - e não as dez que afirmou. É que, para alguns, esses 400 euros que recebeu a mais por mês, dariam um subsídio de Natal para a esmagadora maioria dos empregados com direito a este subsídio, caso tivessem a sorte de os ganhar uma vez por ano.

Portanto, o sr. ex-deputado acha que além dos quase 800 contos mensais que ganhava, precisava de mais. Agora, o que lhe pergunto é o que pensarão disso quem tem reformas de 150 euros e salários de 350. Espanta-me - e choca-me -, com toda a sinceridade, como é que pode dizer que queria ainda mais dinheiro numa época da tão falada tanga, do apertar do cinto, que tão propalada foi pelos seus companheiros que integravam o governo.

Quanto a vendedores que ganhavam mais do que ganhou enquanto deputado, não sei o que vendiam, mas espero que não fosse digno de qualquer caso de polícia :o)

No que respeita ao monovolume e às portagens, veja bem a sorte que teve pela queda do governo! Imagine que, para além das portagens na A3 e da A1, apanhava ainda pelo caminho algumas scuts já com paragem obrigatória?? Já viu? Lá teria o seu salário de ser aumentado! Então é que os 3.900 euros não chegavam!

Corrija-me se estiver errado: Quem abandona o emprego para exercer um calgo público, quando termina as suas funções tem ou não direito à reintegração no seu antigo posto de trabalho? Ora confirme, por favor, se esta alínea não foi também alterada... É que está em vigor um novo código laboral e não vá também esse direito ter sido retirado...

Já agora, o último aumento de salários dos deputados foi de 8%. Enquanto isso, trabalhadores perdem dias de trabalho para conseguirem diminuições no salário porque, como sabe, aumentos só existem quando a taxa de inflação é inferior au aumento. E já lá vão uns anitos que isto não acontece.

Anónimo disse...

Com todo o respeito que o meu amigo me merece...pense que se calhar, o denominado "O gajo" até terá uma certa razão!
Pense que num país em crise económica, receber 3900€ de salário bruto é um "luxo" apenas ao alcance de muitos poucos.
Certo que o carro era seu....certo que estava ao serviço do governo, logo os custos de deslocação deveriam ser totalmente suportados pelo mesmo....mas agora pense:
Não pagamos todos nós a nossa gasolina/gasóleo,trabalhando onde quer que seja?E também lhe garanto que o "subsidio de deslocação" fica muito aquem daquilo que verdadeiramente se gasta!
Temos de, ás vezes, olhar um pouco para o lado e ver a realidade! Subsídio de Integração??Já imaginou, como seria, cada pessoa que muda de "patrão", ter direito a um subsidio semelhante se essa experiência não corresse bem??
E para além do mais...penso que ninguém o terá obrigado a candidatar-se...!

Como referi no ínicio, o meu amigo merece-me todo o respeito...mas perceba, que, como Portugal está de momento, dizer que recebia 3900euros, e que esse valor deveria ser aumentado...deixa muito boa gente revoltada...

Antonio Pinheiro Torres disse...

Obrigado por estes comentários! Fizeram-me pensar. Agora tenho de sair a correr, mas voltarei.

Anónimo disse...

Vocês são uns malandrecos!!! Coitadinho do sr. ex-deputado! Ele é muito pobrezinho, vive muito precariamente... Já diz na bíblia: Bem aventurados os pobres pois deles será o reino dos céus! Ah que fazer voto de pobreza, sr. António Maria. E sobretudo caridade! Os pobrezinhos não existem só para termos peninha deles!

Anónimo disse...

O exercício de cargos públicos deve ser encarado como uma forma de servir a população que elege e não como uma forma dos eleitos se servirem dos cargos que ocupam. Numa altura em que tanto se fala no descrédito na política, é incrível que haja quem defenda que a dignificação da política passa pelo aumento dos salários dos deputados. A cada dia que passa aumenta o fosso entre ricos e pobres... não há distribuição de riqueza... os trabalhadores vêem os seus direitos serem alvo de constantes e sistemáticos ataques... na minha opinião, os eleitos deveriam receber apenas o que recebiam enquanto exerciam a sua profissão...

Anónimo disse...

É. É isso. Nós, portugueses, somos mesmo pequeninos, miudinhos. E invejosos.

Gostava de saber se algum dos críticos que aqui li, sendo algum dia deputado, acharia estar bem pago com os vencimentos políticos que se praticam em Portugal.

É por essas e por outras que gente com valor não quer meter-se na política. E, assim sendo, cada vez mais somos representados por carreiristas sem nível, sem conhecimentos, sem preparação.

Nunca mais aprendemos... Seremos diminuídos?

Ademais, é sabido que os políticos, aliás como qualquer funcionário público, pagam, por inteiro, os impostos sobre o que ganham. Coisa que, como também sabemos, é raríssimo acontecer relativamente a quem não é funcionário público ou equiparado.

Por exemplo:

Será que, quem ao sr. ex-deputado aqui se atirou, tem a coragem de, sem mentir, dizer claramente quanto ganha mensalmente e sobre que parcela do verdadeiro ordenado paga impostos?

Só cá por coisas... e porque a gente sabe como as coisas se fazem e a hipocrisia que por aí anda.

E, para se criticar seja quem for, é preciso exibir alguma moral. Para além de um mínimo de educação, evidentemente. Que raramente se vê.

Cumprimentos

I.Rogeiro disse...

Boa anónimo! (este último)
"Não pagamos todos nós a nossa gasolina/gasóleo,trabalhando onde quer que seja?" xavi77, aí é que se engana, muitas empresas privadas ou não dão carro e telemóvel aos seus funcionários, e respectivas contas pagas (com um certo limite, claro está)
Tio AM, sempre consigo! ;)

Anónimo disse...

Ora aqui está uma questão interessante lançada pelo senhor Anonymous - peço desculpa mas não sei o nome de família. Tenho todo o gosto em traçar-lhe o meu trajecto profissional, por isso, aqui vai:

Aos 16 anos estudava de dia e efectuava já alguns trabalhos na área do desporto, nomeadamente ao serviço da empresa ICON, sub-contratada pela TEAM e responsável pela publicidade da UEFA Champions League. Os pagamentos eram efectuados em dinheiro vivo, na mão, ficando apenas assinado, numa folha que até podia ser um guardanapo, que recebia uma determinada quantia, dependente dos dias em que trabalhava.
Terminado o 11º ano, fui trabalhar para um transitário como eventual, e, por isso, os impostos eram pagos pela empresa.
Quase nos 18, surgiu a oportunida de ir trabalhar para a secretaria de redacção de um jornal. A proposta, boa a longo-prazo, constava de um ordenado de 30 contos para um trabalho sem horário e dias certos. Trinta contos por um trabalho a tempo inteiro. Estive nesta situação mais de um ano - sem contar com os três primeiros meses, em que, sendo denominado de período à experiência estive, na realidade, a trabalhar de borla.

Três meses antes de abandonar aquele emprego por incompatibilidades com a nova direcção e empresa proprietária, vi o meu salário duplicado (que fortuna!). Durante este tempo, ao nível de impostos, era feita a retenção na fonte pelas duas empresas para as quais trabalhei - a recibos verdes, claro está.

Seguiu-se um período em que trabalhei num café - não sei precisar os meses -, sem contrato e sem recibos, em que salário era pago em dinheiro e na mão.

Salvo erro no início de 2003, tive outro convite, desta vez para exercer as funções de tradutor num site. Aceitei e, mais uma vez, o modo de pagamento continuou o mesmo - dentro de envelopes.

No ano passado voltei aos recibos verdes, uma vez que foi formada uma empresa e acabou-se a situação ilegal. Neste período recebi outra proposta: colaborar com um jornal local, sendo que depeois tive oportunidade de começar a colaborar com um órgão de informação nacional.

A declaração de impostos está pronta para ser entregue e, se o senhor/a anónimo/a quiser, até agradeço que a vá entregar.

Importa ainda dizer que, como neste ano tive um salário superior a 2.000 euros vou pagar um IVA de 19%. IVA que não recebi, mas que vou ter que pagar.

Quanto ao que ganho mensalmente, com 22 anos, não imagina o senhor como eu gostava de poder-lhe dizer a quantia, mas há uma particularidade: Trabalho "à palavra", ou seja, recebo por cada palavra traduzida, enquanto que, no jornal, trabalho "à peça", pelo que, como não é difícil de entender, não sei dizer quanto vou ganhar neste mês.

Espero que o senhor/a anónimo/a esteva satisfeito/a.

Quanto ao resto do seu comentário, deixe-me dizer-lhe que percebeu mal: aqui, o que está mal, não é um deputado receber 3.900 euros mensais, mas sim outra pessoa qualquer receber 350. Ou menos, ou mais. Por isso, a pequenez de que falou está fortemente marcada no seu comentário. Não se trata de inveja, trata-se de justiça e de igualdade.

Já agora, quanto à educação, é normal as pessoas apresentarem-se, sem medos, "darem a cara", o que, no mundo dos blogs, se resume tão-só a dar um e-mail ou um link.

Eu fiz isso. E você?

Anónimo disse...

Bem, penso eu de que ... os mesmos 3900 serão igualmente escandalosos agora que temos uma legislatura do paraíso rosa. Ou será que não?

Se o ordenado dos deputados é motivo de escandalo, deve sê-lo sempre e para todos os deputados. Ou estou a ver mal?

E gostava de saber tambem qual é proposta do Sr. Gajo, relativamente a este assunto: Sabendo que o Pais precisa de um parlamento (bom ... pode ser que nem isso seja necessário no entender de tão ilustre visionário) quanto propõe o Sr Gajo que os representantes eleitos ganhem pelas suas funções?

Anónimo disse...

Bem, penso eu de que ... os mesmos 3900 serão igualmente escandalosos agora que temos uma legislatura do paraíso rosa. Ou será que não?

Se o ordenado dos deputados é motivo de escandalo, deve sê-lo sempre e para todos os deputados. Ou estou a ver mal?

E gostava de saber tambem qual é proposta do Sr. Gajo, relativamente a este assunto: Sabendo que o Pais precisa de um parlamento (bom ... pode ser que nem isso seja necessário no entender de tão ilustre visionário) quanto propõe o Sr Gajo que os representantes eleitos ganhem pelas suas funções?