quarta-feira, novembro 19, 2008

Caso Eluana: um juízo de Comunhão e Libertação

CASO ELUANA
CARIDADE OU VIOLÊNCIA?

«A coisa da vida suprema é perceber as razões da fadiga, porque a maior objecção à vida é a morte e a maior objecção à vida é a sua fadiga; a maior objecção à alegria é o sacrifício… O maior sacrifício é a morte» (don Giussani).

Que sociedade é esta que chama à vida “um inferno” e à morte “uma libertação”?
Onde está o ponto de origem de uma razão enlouquecida, capaz de virar ao contrário o bem e o mal e, portanto, incapaz de dar o verdadeiro nome às coisas?
A já anunciada suspensão da alimentação a Eluana é um homicídio. É ainda mais grave por impedir o exercício da caridade, porque existe quem tenha tomado conta dela e queira continuar a fazê-lo.
Durante a sua longa história, o desenvolvimento da medicina tornou-se mais fecundo quando, em época cristã, começou a assistência exactamente aos “incuráveis”, que anteriormente eram expulsos da comunidade dos homens “sãos”, eram deixados a morrer fora dos muros da cidade ou eram eliminados. Quem deles se ocupasse colocaria a própria vida em risco. Assim, quem começou a tomar conta dos incuráveis fê-lo por uma razão mais potente que a própria vida: uma paixão pelo destino do outro homem, pelo valor infinito do outro porque é imagem de Deus criador.
O caso Eluana põe-nos diante da primeira evidência que emerge na nossa vida: não nos fazemos sozinhos. Somos queridos por Outro. Somos arrancados do nada por Alguém que nos ama e que disse: «Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados». Recusar esta evidência coincide com recusar a realidade, mais cedo ou mais tarde. Até quando esta realidade tem o rosto das pessoas que amamos.
Eis a razão pela qual chegar ao ponto de reconhecer Quem nos dá a presença de Eluana não é uma adição “espiritual” de quem tem fé. É uma necessidade de todos os que, por possuírem a razão, procuram um significado. Sem este reconhecimento torna-se impossível abraçar a Eluana e viver o sacrifício de acompanhá-la; aliás, torna-se possível matá-la e fazer passar este gesto, com boa vontade, por amor.
O cristianismo nasceu precisamente como paixão pelo homem: Deus fez-se homem para responder à exigência dramática – que todos acusam, crentes ou não crentes – de um significado para viver e para morrer; Cristo teve piedade do nosso nada ao ponto de dar a vida para afirmar o valor infinito de cada um de nós, em qualquer condição estejamos.
Precisamos d’Ele para sermos nós próprios. E precisamos de ser educados no Seu reconhecimento, para viver.

Comunhão e Libertação
Novembro 2008.

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