quarta-feira, abril 04, 2012

Retornados: uma história impressionante

Apesar de ter 12 anos na altura dei muito pelo que então se passou no país. Recordo-me de ter chorado quando em 27 de Julho ouvi o discurso de abandono do Ultramar de Spínola e em 1975 ler a imprensa de extrema-esquerda, em especial, o "Luta Popular" do MRPP. Recordo-me também logo em 1974 do MAEESL (movimento associativo dos estudantes do ensino secundário de lisboa) e das manifestações a que então íamos (pacificos e burgueses alunos do São João de Brito). Acho que o meu primeiro artigo político foi uma defesa das guerrilhas de esquerda na América-latina (num jornal policopiado editado no Colégio e sintomaticamente chamado "O Burro"...) mas ao mesmo tempo a primeira colagem de cartazes em que participei foi do então PPD com partida de uma sede na João XXI e a companhia de Paulo Portas (fomos colegas e contemporâneos no colégio). Ainda no mesmo colégio levei uma vez um jornal do MES que acabou queimado por alguns colegas de turma. Por 1976 creio já distribua propaganda do CDS pelo Porto. Enfim, memórias da revolução e da iniciação política...

Mas no meio disso tudo, dou-me agora conta, passou-me ao lado a história e o drama dos retornados. Não me recordo de ter tido nenhum da minha idade como amigo e a aproximação à ideia do Ultramar português chegou-me pelas leituras e pelo convivio a partir de 1978 com antigos combatentes, pretos e brancos, nas actividades (anti-comunistas, nacional-revolucionárias) em que participava. Agora homem feito e sobretudo pai de família dou-me conta de que drama humano, familiar, não foi e a que tragédia uma quantidade razoável de portugueses (na maioria brancos), entre meio e um milhão, foi submetida...!






Vem isto a propósito de uma visita a este Blog de memorabilia da grande migração de portugueses do Ultramar e das fotografias impressionantes que fui vendo. Imaginando-me no meio daquilo: bens perdidos, sem emprego, a olhar a família sem nada, ali dependente de mim, carecida da caridade da familia que cá tivesse (e se...), com o futuro por diante como uma grande incógnita...que drama!

E depois, não excluindo as canalhices e misérias humanas, que história grande de esforço e devoção, de refazer a vida e contribuir para o desenvolvimento de um país que tão mal os tratou (e no qual metade deles, no continente, nunca tinha estado...), de laços de amizade e sangue...! Uma história que valeria sempre a pena ler: em homenagem a quem a viveu, para nossa educação e até hoje em dia, nas actuais circunstâncias, como roteiro de como se vence uma crise verdadeira...!

1 comentário:

Ana Paula disse...

Sou natural de Angola (5ª geração). Ao ler o seu texto, não podia deixar de expressar a minha gratidão por se ter lembrado de nós, refugiados/retornados das ex provincias ultramarinas.Obrigado.