É verdade que a personagem abunda em limites e não é difícil
elencar-lhe defeitos e fazer troça de muitas das suas histórias. Como dizia
alguém há uns tempos (no fim do seu último governo) "começa a tornar-se difícil
defender o Berlusca”…Mas daí a chamar-lhe comediante, equiparando-o a Beppe Grillo, vai uma grande distância, que hoje com ligeireza é ultrapassada no
editorial do Público.
No fundo uma manifestação mais daquela mentalidade de
esquerda que não permite entender nada e que induz os maiores enganos e depois
estas estranhas surpresas, como muito bem o diz hoje o editorial do Corriere della Sera onde é feito um impressionante mea-culpa do mainstream mediático, cultural,
político e europeu. As principais citações desse artigo estão aqui na Tempi a mais segura forma de seguir o que se passa a par do Facebook de Silvio Berlusconi.
O artigo é muito clarividente e prenuncia já, explicita ou implicitamente, o que vai
acontecer nos tempos próximos: o insulto ao centro-direita italiano, o lançar
de culpas ao eleitorado (que não soube votar bem, isto é, na esquerda [tipo,
como diz a malta nova agora, referendo europeu]), o recomeço das campanhas
pessoais contra Berlusconi e o reactivar dos processos judiciais, em vez de se
reconhecer que há em Itália um povo que se reconhece, com liberdade (esta
palavra tão usada mas cuja realidade é tão temidas pela esquerda), no centro-direita, que pede
menos impostos, mais liberdade (económica, política, religiosa), respeito pelos
valores e tradições que fizeram a Europa, a defesa da Vida e da Família nos
planos político e legislativo, etc. E que apesar da perda de tempo dos 18 anos
de governo de Berlusconi (salvo a bem sucedida experiência na Lombardia) não
desiste de exigir o que necessita às suas lideranças e tem bem claro que a
esquerda não é nem nunca foi a solução para problema nenhum, nem sequer os
seus, como se vê pela amostra e nos resultados de Beppe Grillo (um caminho que
não leva a lado nenhum, de um moralismo insuportável [quanto tempo iremos
esperar pela derrocada do “a honestidade vai ficar na moda”…], mas que é uma
forma de protesto extrema que nasce da incapacidade dos políticos responderem
às necessidades dos povos).
A propósito do que se passou vale também muito a pena ler
este artigo sobre a eleição ou não de alguns católicos de referência na
política italiana, este sobre os grandes perdedores da noite (de Di Pietro, o
juiz das Mãos Limpas que estilhaçou o sistema político italiano há vinte anos
atrás, a Fini, ingloriamente desaparecido na sopa morna do centro de Monti) e
este de Giuliano Ferrara, director do Il Foglio, que explica sabiamente que
Berlusconi não é uma excrescência a eliminar mas uma pessoa que, com todos os
seus defeitos (uma frase quase inevitavelmente associada ao seu nome…), “construiu
uma maioria capaz de superar o horizonte de todos os erros e todas as loucuras
(incluindo as suas)” e que Berlusconi é uma parte de Itália "e sem esta, não se governa".
Quanto ao futuro? Deus o dirá. Mas uma coisa é certa: passa
por Berlusconi e passa bem. E para o centro-direita em Portugal fica mais um
exemplo de como um povo que sabe de onde vem e ao que vai, necessita lideranças
fortes, determinadas e sem medo do politicamente correcto. Dêem a esse povo em
Portugal primárias nos partidos para escolha dos candidatos, círculos uninominais
e voto de preferência num círculo nacional, e verão como é possível de facto e
correspondente às expectativas de todos (esquerda e direita) um sistema mais
democrático, políticas sufragadas e políticos sindicáveis, premiáveis e
castigáveis…
Nota irresistível: coitadas daquelas miúdas do Femen…tanto
frio para nada…
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