terça-feira, julho 04, 2006

Gisberta

Li com dificuldade (é tão repugnante e violento que custa a ler...) as notícias de hoje sobre o sem abrigo morto no Porto por um bando de rapazes. Não há palavras que descrevam o horror da violência...Como é possível? Como se pode? Que abismos existem na alma humana que podem provocar um facto daqueles?
Que porcarias viram aqueles rapazes que lhes sujaram a cabeça e o coração ao ponto de ficarem assim insensiveis? De que pornografia e violência lhes nasceram aqueles impulsos? Que faz a nossa sociedade para manter a inocência, educar no respeito, aprimorar a sensibilidade destes jovens que sabe-se lá quantas horas de porcaria televisiva consumiram?
E também, em que contextos tão embrutecidos viveram, para que a brutalidade lhes seja tão natural? E como serão e estarão os seus familiares? Como viverão esta circunstância? Que dor os habita ou que insensibilidade os toma?
E agora, com aquele pobre homem morto (que deve agora viver, assim espero e rezo, numa paz por que toda a vida deve ter ansiado, procurando-a mesmo onde ela não se encontra, mas perseguindo o desejo de bondade, amor, felicidade e beleza que estão inscritos no coração de cada homem), que será feito daqueles rapazes? Alguma vez encontrarão uma experiência de amor que os converta (no sentido de que os mude)? Ou cortadas as pontes com a sua própria humanidade, arrastarão a sua existência na estrada do horror e da morte?
E regressa a pergunta do Papa em Auchwitz: "Onde estava Deus?"...e a tradução brilhante que o António Marujo fez no Público a esse mesmo propósito: "Onde é que nós estavamos?" ou seja, "Onde é que eu estava?"...
Nota: parece-me ter percebido pelo Público que esteve presente no Tribunal o Padre responsável pela obra social onde os rapazes são internos (este fim de semana e por acaso estive com um rapaz que foi lá estagiário e me descreveu o ambiente durissimo que lá se vivia e uma instituição pensada para crianças abandonadas, mas não para jovens deliquentes que recebia por não haver mais ninguém ou sitio onde a segurança social os pudesse colocar). Ter-lhe-ia sido certamente mais fácil e conveniente não fazê-lo. Mas é este o escândalo do cristianismo: "por mais abjecta, repugnante e indízivel que seja a tua miséria, a misericórdia é sempre a última palavra e em querendo a tua liberdade, é mesmo a palavra definitiva".
Aparentemente em sentido contrário ao dito acima, mas referindo-me à justiça terrena, e correndo o risco de quem não conhece a tradição, âmbito e implicações, da deliquência juvenil: não são leves de mais as penas pedidas pelo Ministério Público? Não é um contrasenso tratarmos os adolescentes como adultos para umas coisas e como crianças para outras? Se alguém quiser esclarecer este ponto, seja benvindo...!?

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