sexta-feira, julho 14, 2006

Casa do Gaiato: belíssima Nota dos Bispos portugueses

No cinquentenário da morte do Padre Américo

Nota Pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa

Completam-se no próximo dia 16 de Julho cinquenta anos sobre a morte do Padre Américo Monteiro de Aguiar, significativamente conhecido pelo simples nome de “Padre Américo”.
Este homem, que poderia ter singrado numa promissora carreira comercial na África do Sul, vivenciou uma conversão radical a Deus e ao serviço dos pobres, conversão que o levou a ordenar-se padre aos 36 anos, entregando-se desde logo a visitar cadeias, hospitais e os tugúrios de famílias marginalizadas que abundavam em recantos e bairros de lata das nossas principais cidades.
Para estas lança a cadeia de construção que foi o “Património dos Pobres” e para o amparo de doentes incuráveis cria o recolhimento do “Calvário”. A sua genial iniciativa, porém, foi a “Obra da Rua”, destinada a acolher e promover rapazes desamparados. Contam-se por muitas centenas aqueles que, formados no calor cristão e familiar desta escola de vida, estão hoje em lugares de destaque na sociedade portuguesa.
Dificuldades surgidas em algumas das nove “Casas do Gaiato” e incidentes passageiros, a que a comunicação social deu relevo, deixaram no horizonte interrogações sobre a “Obra da Rua”. Ao evocar agora a figura heróica do Padre Américo, manda a justiça não permitir que algumas breves nuvens obscureçam o brilho do sol, este sol que foi e desejamos continue a ser um modelo inédito de educação da juventude.
Este dever de justiça é ainda uma obrigação de consciência, pois as dificuldades presentes sentidas pelas famílias, escolas e instituições juvenis, relativamente à educação das gerações futuras, pedem-nos que recolhamos as proveitosas lições de um mestre.
O Padre Américo ensinou-nos a acreditar na riqueza de valores que o próprio educando traz em si, o tornam criativo e capaz de responsabilidade; demonstrou-nos o alcance pedagógico do brio na tarefa assumida; acreditou na transformação pessoal a partir da liberdade progressivamente experimentada. Estes proveitos e outros se exprimem no lema com que intitulou as suas casas, onde a porta está sempre aberta: “Obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes”.
A raiz destes princípios é o amor evangélico aos mesmos rapazes. Este Padre, que encarnou concretamente a sua missão de Pai, estruturou cada uma das “Casas do Gaiato” sobre o amor generoso e sem condicionantes dos Padres que o continuaram, aos educandos, vindos de situações familiares e sociais deploráveis. Igual amor sem limites e sem aplausos ele o tem como certo também na multidão de apoiantes e benfeitores, de quem nunca recebia doações por morte ou com aplausos publicitados.
Ao assinalarmos a vida e a obra deste grande Padre, que nos deixou há cinquenta anos, queremos manifestar aos “Padres da Rua”, sacerdotes que agora dão corpo ao sonho inicial, o nosso apreço, a nossa gratidão e o nosso propósito de ajuda.
Como todas as instituições humanas, também a “Obra da Rua” sofrerá a evolução do tempo com a inevitável mudança de condições e a desejável melhoria de métodos. Interessados em prosseguir este caminho, nas naturais variantes que assumirá, pedimos aos cristãos que permaneçam fiéis no seu carinho e na ajuda a esta jóia da Igreja no nosso país e em terras africanas.
A todos os portugueses, decerto preocupados com os actuais problemas da educação e com o número porventura crescente de crianças em situação familiar de risco e desamparo, lembramos que a experiência pedagógica do Padre Américo continua um manancial a integrar em formas adaptadas às instituições sociais mais recentes.Que Deus nos ajude a recolher as suas riquezas, validamente pedagógicas e profundamente cristãs.
Lisboa, 13 de Julho de 2006
Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa.

Documentos Conferência Episcopal Portuguesa 13/07/2006 17:47 3693 Caracteres
Copyright© Agência Ecclesia

1 comentário:

Anónimo disse...

I love your website. It has a lot of great pictures and is very informative.
»